segunda-feira, 4 de junho de 2012

SANTÍSSIMA TRINDADE


De Deus como Pai já refletimos em várias ocasiões durante o ano litúrgico; de Deus Filho já meditamos em seus mistérios da Encarnação e Redenção, do Natal até a Ascensão. Do Espírito Santo, Deus como o Pai e o Filho, falou-se, com a devida solenidade, no Domingo de Pentecostes. De cada uma dessas três Pessoas foram focados singularmente em seus aspectos, e agora Elas são consideradas enquanto o Deus Uno e Trino – a Santíssima Trindade. Estamos no centro do ano litúrgico. Olhamos para o caminho percorrido e do alto dessa revelação se abre diante de nós o caminho a percorrer, tanto no ano litúrgico, como na história. A Igreja continua sua caminhada histórica, levando as pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus a darem passos para que suas atitudes também assim demonstrem a sua fé.

Em termos simples, a celebração deste final de semana se trata do próprio ser de Deus. Um e Único, e, entretanto, em três pessoas iguais e idênticas, contudo, ao mesmo tempo, distintas naquilo em que se diferem uma da outra. Um Deus em síntese Uno e Único, indivisível, imutável, eterno e infinito, e que, no entanto, são três pessoas. 

É realmente um só Deus e Senhor, infinito, incorruptível e eterno, que, na sua natureza, é Uno e Único e que, no entanto, são Três Pessoas, cada uma com a eternidade, a unicidade e a perfeição. É onde podemos chegar com o nosso conhecimento ao Mistério da Santíssima Trindade. Um termo teológico, cunhado pela tradição da Igreja para expressar algumas verdades fundamentalmente bíblicas.

Quem nos revela o verdadeiro rosto de Deus, é o Filho Jesus, o Cristo, o Verbo Encarnado, que nos mostrou que Ele e o Pai são um só (Jo 10, 30) e pediu aos apóstolos para evangelizarem e batizarem toda criatura em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 16, 15). Jesus mostrou-nos também viver intensamente a comunhão com o Pai desde a eternidade, realizada no Espírito. Quis, então, o Filho, fazer-nos partícipes também nós, quais filhos no Filho. Na verdade, ele, como Deus feito homem, podia revelar o Mistério de Deus, mesmo que permanece ainda um mistério para nós.

Como Deus pode ser de Uma só natureza e, ao mesmo tempo, três Pessoas iguais e distintas? É uma pergunta de solução impossível do ponto de vista humano, porém, a partir da perspectiva do divino, na onipotência de Deus, não se reflete nos parâmetros limitados e insuficientes do homem, mas está além de nossas categorias de pensamento e as nossas conjecturas. Lembremo-nos do episódio de Santo Agostinho enquanto meditava sobre esse mistério. O Senhor realmente pode fazer todas as coisas, mesmo que seja o ser Um e ao mesmo tempo Três, uma singularidade, sem dúvida, que amadurece imediatamente para uma comunhão de pessoas. É na fé que aceitamos sem reservas este Mistério que desafia a compreensão. De fato, a Trindade marca as nossas próprias vidas, até que alcancemos a compreensão dos desígnios do Deus Uno e Trino. É também o sinal que nos identifica a cada início de celebração: nós nos persignamos com o sinal da Cruz em nome da Santíssima Trindade. Um gesto simples que nos traz todo o mistério da revelação do próprio Deus.

Estar em unidade e comunhão com o próprio Deus inspira-nos também a experimentar o dinamismo de cada comunidade, mantendo cada um a sua individualidade essencial: por um lado estamos a chegar aos outros, não podemos negar a nós mesmos para o benefício exclusivo daqueles que se encontram, e vice-versa. A comunicação e a interação social não devem negar a singularidade inevitável e privilegiada que nos caracteriza. 

O imperativo de cada interação, no entanto, é o amor, a capacidade de doar-se continuamente sem esperar retorno, mesmo que isso signifique sacrificar a si mesmos. No Deus Trindade é revelado para nós como amor absoluto e eterno, que se identifica com a Verdade e que ama infinitamente a si mesmo. Podemos aprender, com o amor da Trindade, como uma característica de doação mútua e frutífera entre os homens: a imagem de Deus Pai que ama o Filho, o Filho que eternamente ama o Pai, e o Espírito Santo que é o Amor entre Pai e Filho (O Amante, o Amado, Amor) reflete a fonte ideal desinteressada entre os homens.
A Trindade é a grande revelação e uma constatação da vida real e fundamenta todas as razões de nossas vidas.

Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro

FONTE: www.jb.com.br

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