De Deus como Pai já refletimos em várias ocasiões durante o ano
litúrgico; de Deus Filho já meditamos em seus mistérios da Encarnação e
Redenção, do Natal até a Ascensão. Do Espírito Santo, Deus como o Pai e
o Filho, falou-se, com a devida solenidade, no Domingo de Pentecostes.
De cada uma dessas três Pessoas foram focados singularmente em seus
aspectos, e agora Elas são consideradas enquanto o Deus Uno e Trino – a
Santíssima Trindade. Estamos no centro do ano litúrgico. Olhamos para o
caminho percorrido e do alto dessa revelação se abre diante de nós o
caminho a percorrer, tanto no ano litúrgico, como na história. A Igreja
continua sua caminhada histórica, levando as pessoas criadas à imagem e
semelhança de Deus a darem passos para que suas atitudes também assim
demonstrem a sua fé.
Em termos simples, a celebração deste final
de semana se trata do próprio ser de Deus. Um e Único, e, entretanto,
em três pessoas iguais e idênticas, contudo, ao mesmo tempo, distintas
naquilo em que se diferem uma da outra. Um Deus em síntese Uno e Único,
indivisível, imutável, eterno e infinito, e que, no entanto, são três
pessoas.
É realmente um só Deus e Senhor, infinito,
incorruptível e eterno, que, na sua natureza, é Uno e Único e que, no
entanto, são Três Pessoas, cada uma com a eternidade, a unicidade e a
perfeição. É onde podemos chegar com o nosso conhecimento ao Mistério
da Santíssima Trindade. Um termo teológico, cunhado pela tradição da
Igreja para expressar algumas verdades fundamentalmente bíblicas.
Quem
nos revela o verdadeiro rosto de Deus, é o Filho Jesus, o Cristo, o
Verbo Encarnado, que nos mostrou que Ele e o Pai são um só (Jo 10, 30)
e pediu aos apóstolos para evangelizarem e batizarem toda criatura em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 16, 15). Jesus
mostrou-nos também viver intensamente a comunhão com o Pai desde a
eternidade, realizada no Espírito. Quis, então, o Filho, fazer-nos
partícipes também nós, quais filhos no Filho. Na verdade, ele, como
Deus feito homem, podia revelar o Mistério de Deus, mesmo que permanece
ainda um mistério para nós.
Como Deus pode ser de Uma só natureza
e, ao mesmo tempo, três Pessoas iguais e distintas? É uma pergunta de
solução impossível do ponto de vista humano, porém, a partir da
perspectiva do divino, na onipotência de Deus, não se reflete nos
parâmetros limitados e insuficientes do homem, mas está além de nossas
categorias de pensamento e as nossas conjecturas. Lembremo-nos do
episódio de Santo Agostinho enquanto meditava sobre esse mistério. O
Senhor realmente pode fazer todas as coisas, mesmo que seja o ser Um e
ao mesmo tempo Três, uma singularidade, sem dúvida, que amadurece
imediatamente para uma comunhão de pessoas. É na fé que aceitamos sem
reservas este Mistério que desafia a compreensão. De fato, a Trindade
marca as nossas próprias vidas, até que alcancemos a compreensão dos
desígnios do Deus Uno e Trino. É também o sinal que nos identifica a
cada início de celebração: nós nos persignamos com o sinal da Cruz em
nome da Santíssima Trindade. Um gesto simples que nos traz todo o
mistério da revelação do próprio Deus.
Estar em unidade e
comunhão com o próprio Deus inspira-nos também a experimentar o
dinamismo de cada comunidade, mantendo cada um a sua individualidade
essencial: por um lado estamos a chegar aos outros, não podemos negar a
nós mesmos para o benefício exclusivo daqueles que se encontram, e
vice-versa. A comunicação e a interação social não devem negar a
singularidade inevitável e privilegiada que nos caracteriza.
O
imperativo de cada interação, no entanto, é o amor, a capacidade de
doar-se continuamente sem esperar retorno, mesmo que isso signifique
sacrificar a si mesmos. No Deus Trindade é revelado para nós como amor
absoluto e eterno, que se identifica com a Verdade e que ama
infinitamente a si mesmo. Podemos aprender, com o amor da Trindade,
como uma característica de doação mútua e frutífera entre os homens: a
imagem de Deus Pai que ama o Filho, o Filho que eternamente ama o Pai,
e o Espírito Santo que é o Amor entre Pai e Filho (O Amante, o Amado,
Amor) reflete a fonte ideal desinteressada entre os homens.
A Trindade é a grande revelação e uma constatação da vida real e fundamenta todas as razões de nossas vidas.
Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro
FONTE: www.jb.com.br
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